O Segredo do Sucesso Sul-Coreano: Como a Hallyu Conquistou o Mundo

Foto: Reprodução.

O que explica o sucesso? Sorte? Talento? Oportunidade? Persistência? Uma mistura de tudo isso?

Sucesso, segundo o dicionário, significa êxito, triunfo. Mas o que ele não explica é como chegar lá. Existe uma fórmula secreta? Se houver, parece que os sul-coreanos descobriram como criá-la e replicá-la, especialmente nas produções culturais.

Esse fenômeno é conhecido como Hallyu ou "Onda Coreana", que ganhava proporções maiores nos anos 2000 entre os países asiáticos e, posteriormente, no resto do mundo. O movimento começou com a música, os filmes e os famosos K-dramas, mas hoje engloba moda, cuidados com a pele, tecnologia, comida, idioma e até gestos como o "mini coração" (finger heart). E ainda, um pouco menos conhecido para o público geral, mas talvez mais familiar aos apaixonados pela Coreia do Sul, são os manhwas (“quadrinhos ou desenhos animados impressos”).

Até os anos 2000, o Japão liderava no ocidente como principal exportador de cultura pop asiática. Mas a Coreia do Sul assumiu o protagonismo global. Afinal, o que explica esse fenômeno?

Dragon Ball Z / Foto: Reprodução.

A Ascensão da Hallyu: Como Tudo Começou

A década de 1980 marcou o início de uma transformação cultural na Coreia do Sul. Enquanto o país consumia predominantemente produtos europeus e estadunidenses, começou a ganhar força um movimento para valorizar a produção local. O governo e grandes empresas decidiram investir pesado na indústria cultural como uma forma de revitalizar a economia após a crise financeira do final dos anos 1990.

Esse esforço levou à exportação de produtos culturais, como K-dramas e K-pop, que ganharam espaço primeiro na Ásia e depois no mundo todo.

O K-pop e as Gerações de Idols

O K-pop, uma das maiores forças da Hallyu, não surgiu da noite para o dia. Desde os anos 1990, o gênero passou por diversas gerações. A revista coreana Idology — especializada em cultura pop coreana — separa em 4 gerações e mais 3 intermediárias (e, atualmente, já temos uma 5ª geração!):

  • 1ª Geração: É marcada pela criação da SM Entertainment e pelo surgimento de grupos pioneiros como Seo Taiji & Boys e H.O.T., que estabeleceram a base do K-pop moderno.
H.O.T. / Foto: Reprodução.

  • 1.5ª Geração: A artista BoA destacou-se no início dos anos 2000, sendo uma das primeiras estrelas a alcançar sucesso no Japão e além.

  • 2ª Geração: Grupos como TVXQ, Super Junior, Girls’ Generation e BIGBANG levaram o K-pop para turnês internacionais e maiores investimentos por parte das produtoras. Foi também o momento dos ídolos se destacarem fora da música, como em reality shows e dramas.


OBS: 3 membros do BIGBANG (formação atual) se juntaram no MAMA de 2024 para esse stage HISTÓRICO após 9 anos de sua última performance na premiação. BIGBANG foi um dos grupos de maiores sucessos e o grupo responsável por criar a primeira lightstick do Kpop! Daria um post inteiro só sobre momentos que mudaram a história do Kpop.

  • 2.5ª Geração: Alguns grupos com estilos um pouco diferentes se destacaram, como 2PM, SHINee, 2ne1 e Miss A. Nessa época tivemos os primeiros videoclipes e a popularização ao redor do mundo com a ajuda da ascensão do YouTube — criado em 2005.


  • 3ª Geração: Com o YouTube, as redes sociais e streamings de música, os artistas da terceira geração conseguiram alcançar um público ainda maior e fiel pelo mundo. Foi nessa época (2012) que estourou o clipe de Gangnam Style, do Psy, alcançando bilhões de visualizações, se tornando o vídeo mais assistido do YouTube por muito tempo e dando mais visibilidade para a música coreana. Outros grupos desta geração são: EXO, BLACKPINK, GFRIEND, GOT7 e BTS


  • 3.5ª Geração: Reality shows como Produce 101 e I-LAND formaram novos grupos e atraíram olhares globais. E aqui grupos como o BTS, Seventeen, Pentagon, NCT e Monsta X colhem os frutos da globalização do k-pop.

  • 4ª Geração: Com TXT, Stray Kids, ITZY e ATEEZ, o K-pop virou produto direto para o mercado internacional. 

  • 5ª Geração: Iniciada com o grupo ZB1, formado pelo reality Boys Planet, reflete a maturidade do K-pop como indústria global. Também dessa geração temos os grupos KISS OF LIFE, BOYNEXTDOOR, BABYMONSTER e RIIZE


BTS: Mais Que Música

BTS em Discurso na ONU / Foto: Reprodução.


O BTS também é um caso à parte e merece destaque. Mais que um grupo musical, os sete integrantes são ícones culturais. Seu impacto vai além da música:
  • Turismo: Aumentaram o interesse global pela Coreia do Sul.
  • Discurso na ONU: Destacaram-se como defensores da juventude e do autocuidado, ganhando ainda mais visibilidade internacional.
  • Premiações: Quebraram barreiras em eventos globais e ajudaram a reduzir o preconceito contra produções asiáticas (ou, no mínimo, evidenciaram o preconceito nessas premiações, o que começou a gerar maiores debates).

A Influência do Cinema Sul-Coreano

O cinema da Coreia do Sul também teve papel essencial no sucesso global da Hallyu. Um marco foi Parasita (2019), o primeiro filme em língua não inglesa a vencer o Oscar de Melhor Filme. Durante o discurso, o diretor Bong Joon-ho disse:

"Quando vocês superarem a minúscula barreira das legendas, vocês serão apresentados a muitos outros filmes incríveis."
Bong Joon-ho / Foto: Reprodução.

Está tudo conectado. Uma área impulsiona a outra. Em 2021, tivemos uma série coreana, Squid Game ou Round 6, ganhando o posto de série mais assistida do site da Netflix. O dorama Vincenzo, estrelado por Song Joong-Ki e Jeon Yeo-been, também ganhou bastante destaque e recebeu diversos comentários positivos. E a todo momento temos novos k-dramas sendo feitos pela própria Netflix, o que populariza ainda mais as produções coreanas.

A prova disso é como temos doramas em todos os streamings hoje em dia. Prime Vídeo tem Marry My Husband, que gerou uma comoção quando lançou seu último episódio. Disney+ tem Moving. Max tem o clássico W - Dois Mundos. Isso sem contar em serviços especializados na cultura asiática, como Viki, Kocowa e iQiyi.

Ainda no campo cinematográfico e televisivo, algo que chamou a atenção nos últimos anos foram as produções do gênero de terror, em especial com zumbis. Em um tema já saturado como mortos-vivos, os sul-coreanos conseguem trazer um respiro e inovar com histórias criativas, bem desenvolvidas e zumbis de diferentes jeitos e origens. Algumas produções que valem a pena serem assistidas são: as séries Kingdom e All of us are dead e filmes como Invasão Zumbi (Train to Busan).


Literatura, Tecnologia e Gastronomia: Outras Facetas da Hallyu

Além de música e cinema, outros setores da cultura sul-coreana vêm ganhando o mundo:

  • Literatura: Autores como Han Kang (A Vegetariana), Kyung-sook Shin (Por Favor, Cuide da Mamãe), Won-pyung Sohn (Amêndoas), Min Jin Lee (Pachinko) e Cho Nam-Joo (Kim Jiyoung, nascida em 1982) trouxeram a literatura sul-coreana para o mainstream.
  • Tecnologia: Marcas como Samsung e Hyundai impulsionam a reputação da Coreia como líder em inovação.
  • Gastronomia: Pratos como bibimbap, kimchi e bulgogi tornaram-se populares, assim como o soju, a bebida típica do país.

Enfrentando Preconceitos

Apesar de todo o sucesso global, as produções sul-coreanas ainda enfrentam preconceito em premiações e desdém de algumas audiências ocidentais, que por vezes subestimam ou desvalorizam a cultura asiática. No entanto, a Hallyu continua crescendo, quebrando barreiras culturais e provando que talento e persistência podem superar desafios.

Mas nem tudo é perfeito dentro da própria Coreia do Sul. O país também enfrenta questões sociais delicadas que afetam não só sua sociedade, mas também os artistas que representam sua cultura:

  • Racismo: Embora a Coreia do Sul esteja se abrindo cada vez mais para a diversidade global, pessoas negras, estrangeiros e até mesmo coreanos de ascendência mista frequentemente enfrentam discriminação. Essa realidade, por vezes, é refletida e criticada em dramas e filmes, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
  • LGBTQIA+fobia: A Coreia é um país conservador em muitos aspectos, e a comunidade LGBTQIA+ ainda enfrenta preconceitos significativos. Apesar de avanços tímidos, como personagens queer em dramas ou artistas assumidamente LGBTQIA+, a discriminação ainda é predominante tanto no entretenimento quanto na sociedade.
  • Pressão sobre os artistas: A indústria do entretenimento sul-coreano é conhecida por ser extremamente rigorosa. Ídolos e atores muitas vezes enfrentam julgamentos pesados sobre sua aparência, comportamento e vida pessoal. É comum que sejam desencorajados a namorar publicamente para não “desagradar” fãs ou comprometer suas carreiras. Essa pressão constante tem levado a problemas de saúde mental. A Coreia do Sul, inclusive, sofre com uma alta taxa de suicídios, não somente entre artistas, mas na população geral.

Essas questões, apesar de desafiadoras, vêm sendo debatidas com mais frequência, tanto local quanto internacionalmente. Os jovens sul-coreanos, especialmente, estão pressionando por mudanças e maior aceitação, mostrando que a cultura de um país pode evoluir de dentro para fora e vice-versa.

Enquanto a Hallyu segue encantando o mundo, talvez seu maior impacto seja não apenas exportar sua arte, mas também promover diálogos e reflexões sobre os desafios que ela ainda enfrenta em sua origem.

O Futuro da Hallyu: Uma Revolução Cultural em Constante Evolução

Protagonistas do K-drama Rainha das Lágrimas / Foto: Reprodução.

A Hallyu é mais do que um movimento cultural; é um fenômeno que está moldando o imaginário global sobre a Coreia do Sul. Com cada novo K-drama que viraliza, cada música de K-pop que lidera os charts ou cada filme que desafia as barreiras das legendas, o país continua a se destacar como um epicentro de criatividade, inovação e influência.

Mas o impacto da Hallyu vai além do entretenimento. Ela está transformando diálogos sobre cultura, identidade e diversidade, enquanto inspira milhões de pessoas ao redor do mundo a se conectarem com valores e tradições que, até pouco tempo, eram desconhecidos para muitos.

O sucesso sul-coreano é uma prova de que sonhos coletivos podem se tornar realidade com planejamento estratégico, paixão e perseverança. Ao exportar sua arte, a Coreia não apenas compartilha histórias, mas também constrói pontes entre culturas.

Seja você um fã de K-pop, um amante de dramas emocionantes, um explorador de novas literaturas ou apenas alguém curioso sobre o mundo, a Hallyu tem algo para oferecer. E o mais emocionante é saber que, mesmo com tudo o que já conquistou, essa onda cultural está longe de alcançar seu auge.

Prepare-se: a Coreia do Sul está só começando a mostrar todo o seu potencial. 🌍🇰🇷

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